O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou nesta quarta-feira (2/4) um conjunto de tarifas sobre produtos importados, denominado “tarifaço global”. O Brasil está entre os países impactados, com uma taxa fixa de 10%. Dentre as tarifas anunciadas, a aplicada ao Brasil é a mais baixa, ao lado das que se aplicam a países como Reino Unido, Cingapura, Chile, Austrália e Turquia. A primeira ação anunciada por Trump nesse dia foi a imposição de uma tarifa de 25% sobre automóveis a partir da quinta-feira (3/4). “A partir de meia-noite, vamos implementar uma taxa de 25% para todos os automóveis importados”, afirmou o presidente.
Ao falar sobre o tarifaço, Donald Trump mencionou produtos provenientes da União Europeia, Austrália, China, Japão e outros parceiros comerciais. Além dos automóveis, ele também criticou a importação de carne australiana, embora não tenha citado o Brasil em seu discurso. “Por décadas, os Estados Unidos permitiram que barreiras tarifárias fossem impostas contra nós, o que dizimou nossa indústria. Isso ocorreu sem resposta dos EUA, mas esses dias acabaram”, declarou Trump. Ele prosseguiu: “Muitas vezes, os amigos são piores que os inimigos em termos de comércio. Acredito que isso arrasou nossa base industrial e colocou nossa segurança nacional em risco”. De acordo com o presidente americano, a China impõe uma tarifa de 65% aos produtores de arroz dos EUA, enquanto a Coreia do Sul aplica taxas entre 50% e 55%. “No Japão também. Eles querem vender seu próprio arroz, e quem pode culpá-los por isso?”, comentou. “Estamos fazendo isso para evitar que nos roubem. Precisamos observar quais produtos serão importados. Muitas coisas ainda terão acesso, mas as nações agora terão que pagar para acessar o maior mercado do mundo”, enfatizou Trump.
Essa política tarifária faz parte das promessas de campanha do republicano e é chamada por ele de “Dia da Libertação”, pois, segundo Trump, ajudará os Estados Unidos a diminuir a dependência de importações. As tarifas recíprocas, um dos principais aspectos da medida, envolvem a aplicação de taxas equivalentes às que os EUA enfrentam em outros mercados. O governo americano argumenta que países que impõem barreiras comerciais aos EUA estarão sujeitos a medidas semelhantes.
No Brasil, o tarifaço de Trump gera apreensão, especialmente nos setores de aço e alumínio, que já enfrentam tarifas desde março. Além disso, o etanol brasileiro é frequentemente mencionado como exemplo de comércio desigual: enquanto os EUA taxam o etanol importado em 2,5%, o Brasil impõe uma tarifa de 18% sobre o produto americano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a decisão e anunciou que o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC). Caso essa contestação não surta efeito, o governo considera a imposição de tarifas sobre produtos dos Estados Unidos. No Congresso, senadores e deputados discutem a possibilidade de endurecer a política comercial contra os EUA. Na terça-feira (1º/4), o Senado aprovou o Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil retaliar barreiras comerciais impostas por outros países. O texto seguirá para a Câmara dos Deputados, onde deve ser analisado com urgência.
A proposta confere à Câmara de Comércio Exterior (Camex) a responsabilidade de avaliar as respostas a medidas comerciais prejudiciais ao Brasil. Entre as possíveis retaliações, estão a aplicação de taxas extras sobre bens e serviços dos países que impuserem barreiras comerciais ao Brasil, a suspensão de concessão de patentes ou remessa de royalties, e a revisão de obrigações do Brasil em acordos comerciais internacionais. O senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), autor da proposta, destacou que a iniciativa busca proteger a economia nacional e evitar que o Brasil seja prejudicado por decisões unilaterais de outros países. “Não podemos aceitar passivamente essas barreiras comerciais. O Brasil precisa agir”, afirmou.
Além das iniciativas legislativas, uma comitiva de diplomatas brasileiros foi enviada a Washington para negociar alternativas com autoridades americanas e buscar isenções para determinados setores. O governo brasileiro também analisa a possibilidade de ampliar acordos comerciais com outros parceiros, visando reduzir a dependência das exportações para os EUA.
As novas tarifas dos Estados Unidos provocaram reações diversas de outros países, que estão considerando contramedidas para proteger suas economias.
No Canadá, o primeiro-ministro Mark Carney afirmou que as medidas de Trump rompem a parceria entre os dois países e indicou que o Canadá poderá responder com suas próprias tarifas. “A antiga relação que tínhamos com os Estados Unidos, baseada na integração cada vez mais profunda de nossas economias e na estreita cooperação em segurança e militar, acabou”, declarou Carney.
No México, a presidente Claudia Sheinbaum evitou falar em retaliação, mas enfatizou que proteger empregos mexicanos é prioridade. “Não acreditamos em olho por olho, dente por dente. Isso sempre leva a uma situação ruim. O diálogo deve continuar. Não se trata de você me atingir e eu te atingir, mas sobre o que é melhor para o México e como lidar com essa situação”, disse.
A China criticou as tarifas e alertou para os impactos negativos no comércio global, com o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmando que “não há vencedores em guerras comerciais”.
Já a União Europeia classificou o tarifaço de Trump como uma medida prejudicial ao comércio global e declarou que responderá com contramedidas. A Comissão Europeia anunciou que, caso as tarifas sejam aplicadas integralmente, o bloco poderá retaliar com impostos de 26 bilhões de euros (aproximadamente US$ 28 bilhões ou R$ 160 bilhões) sobre produtos norte-americanos. O presidente francês, Emmanuel Macron, comentou que as tarifas “desorganizam cadeias produtivas globais e podem gerar inflação e desemprego”.